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Páginas: 144
· Editora: José Olympio
"Nunca esperei muita coisa, digo a Vossas Senhorias. O que me fez retirar não foi a grande cobiça, o que apenas busquei foi defender minha vida de tal velhice que chega antes de se inteirar trinta."
Morte e Vida Severina, Auto de Natal Pernambucano do autor João Cabral de Melo Neto. O Auto conta sobre trajetória de um dos muitos severinos, retirante do sertão nordestino, que migra para Recife seguindo o curso do rio Capibaribe, em busca de trabalho e em fuga da seca.
trechos:
“— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
(...)
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).”
Assista MORTE E VIDA SEVERINA